Águas de Embu e a I Feira Afro Tradicional
Mais do que festas e solenidades referenciais, os dois
encontros ultrapassaram a fronteira dos movimentos culturais e apontaram para
ações de luta e afirmação do status das nacionalidades bantu, jêje e iorubá no
Brasil
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Fortalecimento do Conselho de Povos Tradicionais de Matriz
Africana; após a doação de terreno para criação e instalação de cooperativa;
espaço para construção do Complexo dos Povos; e assinatura do Tratado de
Cidades Irmãs com Ifon, na Nigéria. Estas são algumas das ações consagradas na
série de eventos ocorridos em Embu das Artes (SP) antes da realização do 2º
Encontro das Águas de Embu e da I Feira Afro Tradicional, ocorridos nos dias
20, 21 e 22 de novembro último.
As atividades simbolizam muito da trajetória da cidade, cada
vez mais comprometida com a história e a vida dos povos tradicionais de matriz
africana. A combatividade deles na cidade se torna ainda mais emblemática,
considerando a idade do município, emancipado em 1959, suas dimensões
geográficas, de 70 km² e população estimada em cerca de 250 mil habitantes.
RITOS, ARTES E AÇÕES CONCRETAS
Líderes dos movimentos que defendem valores do contínuo
civilizatório dos povos tradicionais de matriz africana em Embu começaram a ver
os resultados da luta no anúncio da I Feira Afro Tradicional. Em parceria com a
prefeitura, finalmente, eles consolidaram mais o Conselho dos Povos Tradicionais
de Matriz Africana do município. A instituição fortaleceu o diálogo com
gestores governamentais no planejamento e implementação das políticas públicas
para os descendentes bantus, jêjes e iorubás.
A moderna composição do Conselho é formada por integrantes
dos três troncos linguísticos, com três representantes cada um, além de membros
da Associação Federativa de Umbanda e Candomblé da cidade e grupos oriundos do
Fórum Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional dos Povos Tradicionais de
Matriz Africana (Fonsanpotma).
Em meio a palestras, oficinas e apresentações artísticas, a
Feira contou com expositores da Nigéria, Senegal e Congo, de artistas e
artesãos brasileiros nacionalmente consagrados, como mãe Edna, Isabel, Cleonice
o grupo Magia Nagô. Exposições de fotografia compuseram o cenário, pontuado
pelas imagens do rei de Ifon, mostras de livros e artes plásticas.
ÁGUAS DE OXALÁ
A edição de 2015 do Encontro das Águas de Embu manteve a
tradição de consagrar as águas, governança. O ato marcou o momento político,
pois reverenciou o orixá da harmonia e da paz, principalmente como ação contra
o preconceito e a intolerância que atingem os povos tradicionais de matriz
africana no Brasil. Em 2014, o Obá Almooruf Adekunle Magbagbeola, rei na cidade
de Ifon, na Nigéria, foi quem abriu as festividades, afirmando a importância do
reencontro dos povos, que permitiu o protocolo que considera Ifon e Embu como
cidades irmãs.
Para a nova condição, Embu das Artes, cidade anfitriã do
encontro em 2014 e neste ano, contou com a ajuda do articulador político do
Fonsanpotma, tata Edson Nogueira, e do babalorixá Odesi, representante do Fórum
no Conselho dos Povos Tradicionais de Matriz Africana — entidade que designou
membros para apoiar as iniciativas do Fonsanpotma. Uma das missões mais
importantes da delegação foi a articulação para a visita do Obá Almooruf, em
2014, à cidade.
A visita real deixou a todos entusiasmados porque o rei deu
início a visitações às cidades com o propósito de difundir o reconhecimento e a
valorização da cultura e da tradição. Segundo os articuladores da presença do
rei de Ifon em Embu das Artes, “os atos que se sucederam durante sua passagem
por terras brasileiras, representaram respeito à implantação de políticas
públicas que assegurem a discussão política e o reconhecimento desses povos
como agentes importantes para sua identidade”.
COOPERATIVA TRADICIONAL
Para os articuladores da Feira Afro e das Águas de Embu, as
atividades desenvolvidas em novembro ultrapassaram o limite das manifestações
lúdicas. Elas consolidaram o êxito da campanha de lutas pelo fortalecimento dos
povos tradicionais de matriz africana por meio da conquista de parceiros
governamentais, o que levou o município paulista a se tornar referência
nacional para as estratégias do Fonsanpotma.
O resultado não poderia ter sido melhor para o momento: o
prefeito Francisco do Nascimento Brito fez a doação de terreno de 15 mil m²,
onde representantes dos povos tradicionais de matriz africana vão erguer uma
cooperativa. Nela, eles implantarão projetos econômicos em obediência de acordo
com os princípios do contínuo civilizatório para criação de animais e
atividades agrícolas diversas. As tarefas produtivas seguirão os planos de
sustentabilidade e segurança alimentar da matriz africana. A outra área doada
também abrigará o Parque da Várzea, onde será erguido o Complexo dos Povos
Tradicionais.
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PARA SABER MAIS
Mais do que traduzir em sua arquitetura e costumes muito do
que se espera de um povo que busca preservar a tradição africana, os herdeiros
e líderes dessa matriz reafirmaram a luta pelo reconhecimento dos direitos
civis, no Brasil, de descendentes dos cidadãos que eram livres em solo
africano, sequestrados e tornados escravos no Brasil entre os séculos 17 e 18.
Embu das Artes foi elevada à categoria de município em 1959, quando se
emancipou de Itapecerica da Serra, um ano antes da inauguração de Brasília.
Poucos historiadores revelam que a vocação artística da
cidade começou a projetar-se em 1937, quando Cássio M'Boy, santeiro de Embu,
logrou êxito no Primeiro Grande Prêmio na Exposição Internacional de Artes
Técnicas, em Paris. Antes, o artista havia sido professor de vários artistas e,
sabe-se agora, depois de registros espaçados e descontextualizados, se fez
anfitrião de notáveis do Movimento Modernista de 1922 e das artes em São Paulo.
Dentre os visitantes que lhe acorriam na própria casa, estavam ninguém menos
que Anita Malfatti, Tarsila do Amaral, Oswald de Andrade, Menotti Del Picchia,
Alfredo Volpi e Yoshiya Takaoka.
Cássio M’boy deixou seus saberes preservados na ação de
Sakai de Embu, seu discípulo, que também acabou por ser reconhecido internacionalmente
como um dos grandes ceramistas-escultores brasileiros. Sakai forma um grupo de
artistas plásticos, ao qual pertence Solano Trindade. Ao aportar em Embu, em
1962, Trindade levou para a cidade a cultura negra. Estes artistas compuseram o
tríduo genético da cultura de Embu das Artes e congregaram grupo de artistas
que introduziu a tradição dos orixás.
Parabéns à prefeitura de Embu na figura do prefeito, pela sua visão empreendedora, e principalmente ao povo Tradicional de Matriz africana.
ResponderExcluirParabéns à prefeitura de Embu na figura do prefeito, pela sua visão empreendedora, e principalmente ao povo Tradicional de Matriz africana.
ResponderExcluirMaior orgulho de te. Iniciadoesta luta
ResponderExcluirMaior orgulho de te. Iniciadoesta luta
ResponderExcluirMuito bom... Precisa agora acontecer neh!!!!!
ResponderExcluirMuito bom... Precisa agora acontecer neh!!!!!
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