Sabor e contradições


Rosane Garcia

Milhares de brasileiros têm sido mobilizados nas unidades da Federação, desde o segundo trimestre, em reuniões municipais, estaduais e distrital preparatórias à 5ª Conferência Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, que ocorrerá, de 3 a 6 de novembro, em Brasília. A expectativa é de que mais de 2 mil pessoas participem do encontro cujo lema é "Comida de verdade no campo e na cidade: por direitos e soberania alimentar”.  Entre os objetivos, está o de reforçar o conceito de alimentação saudável, o que significa levar à mesa dos consumidores produtos cultivados sem contaminantes, como recomendam as boas técnicas agroecológicas.

Um ano atrás, o governo comemorou a exclusão do Brasil do mapa mundial da fome. Entre 2002 e 2014, diminuiu em 83% o contingente de brasileiros em situação de subalimentação, segundo o Fundo das Nações Unidas para Alimentação e a Agricultura (FAO). Embora a conquista tenha sido mérito das políticas públicas de combate à miséria, faltam ações que restaurem o padrão alimentar dos povos tradicionais de matriz africana.

Movimento sociais, como o Fórum Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional dos Povos Tradicionais de Matriz Africana (Fonsanpotma), com representantes no Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), cobram a recuperação do padrão comunitário de produção do passado, que se opõe à transgenia e ao agronegócio. O atendimento à demanda implica colocar em debate a territorialidade dos afrodescendentes, que vai além dos espaços das práticas afrorreligiosas. 

Além disso, será preciso adequar a legislação, eliminando as contradições que impedem a produção e o beneficiamento dos alimentos, como faziam os antepassados dos que se autodeclaram descendentes de grupos étnicos sequestrados no continente africano e escravizados no Brasil. Hoje, o que é considerado cardápio religioso, trata de dieta equilibrada, fonte de saúde para a população e que se enquadra no conceito de cultivo sustentável. Espera-se que a 5ª Conferência seja palco de pacificação do conflito decorrente da negação dos direitos dos povos de matriz africana a refeições de acordo com suas tradições. (Artigo publicado no jornal Correio Braziliense, 5 de outubro de 2015; Foto: internet)

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