Além de religião somos mais, somos tradição



Por Vodunce Cleyton Araújo

Cleyton Araújo ― Etemi Lisasi
(Povo Tradicional de
Matriz Africana Ewe-Fon),
coordenador nacional da
Juventude do Fonsanpotma
(ANJPCT-Brasil) 
Falar e ter um discurso voltado para a religião ou intolerância religiosa é não pensar e agir na concepção política.  Não podemos ter retrocessos nos debates e nas discussões políticas de longos anos por falas voltados apenas na religiosidade.

Nós, Povos Tradicionais de Matriz Africana, somos reconhecidos pela Conversão 169 da Organização Internacional do Trabalho – OIT da Organização das Nações Unidades – ONU, e a República Federativa do Brasil assinou essa carta, decretando assim e reconhecimento dos  povos e comunidades tradicionais. O Decreto nº 6.040/2007 reconhece os povos oriundos da diáspora africana, que foram sequestrados e postos nesta terra por três longos séculos como mão de obra escrava. 

Ser povo tradicional de matriz africana e ter um ganho nas políticas publicas de garantia de terra/água, segurança alimentar e nutricional, garantia da manutenção das línguas, acesso ao meio ambiente, dupla cidadania e garantia do Território.

Declara-se como  religiosos ou religiosas de terreiros, do santo, povo do axé, religião etc. Deixa-se de fora das políticas brasileiras, planos e leis de incentivo e garantias.Um grande exemplo é o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC). Determina nos seus artigos que as Unidades de Conservação ou Parque Naturais que tenham Povos Tradicionais no seu entorno ou dependência podem e devem ser consideradas como de Uso Sustentável.

Não tem como haver no Brasil um plano nacional para o desenvolvimento de religiões. Nosso estado é laico!!! Mais há no Brasil sim: O Plano Nacional de Desenvolvimento Sustentável para Povos e Comunidades Tradicionais. 

Porque temos que ser chamados de Povos Tradicionais? 

O Decreto 6.040/2007 define: Povos e Comunidades Tradicionais: grupos culturalmente diferenciados, que se reconhecem como tais, possuem formas próprias de organização social e ocupam e usam territórios e recursos naturais como condição para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica, utilizando conhecimentos, inovações e práticas gerados e transmitidos pela tradição.

Nos temos um tronco linguístico próprio, alias temos vários (Kiribundo, Kibundo, Kikongo, Yorùgbá, Fongbe, Ewe, Mina). Temos uma soberania alimentar e nutricional, uma forma de alimentação baseada na ancestralidade (uma comida própria). Temos uma relação com a natureza própria, uma relação ancestral com a natureza, e isso é base fundamental para nossa sobrevivência. 

Temos uma forma de organização política própria, baseado na circularidade. Temos uma relação com a ancestralidade definida. Temos uma cultura própria e particular. Temos um conceito civilizatório Afrocentrado, e não os da Europa. Sim! Também temos uma forma de pensar a Religiosidade, mais isso é um ponto entre os diversos termos e conceitos que nos define como Povo Tradicional. 

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